domingo, 30 de junho de 2013

AUTOANÁLISE



Na doutrina freudiana e na história do movimento psicanalítico, a situação da autoanálise
sempre foi tão problemática quanto a da cientificidade da psicanálise. Essa nova “ciência”,
inventada por Freud, realmente se caracteriza pelo fato de dever sua existência aos
enunciados de um pai fundador, autor e criador de um sistema de pensamento.

Como assinalou Michel Foucault (1926-1984) numa conferência proferida em 1969, é
preciso, nesse contexto, estabelecer bem a diferença entre a fundação de um campo de cientificidade, caso em que a ciência se relaciona com a obra do instaurador como o faria com coordenadas primárias, e a fundação de uma discursividade de tipo científico, através da qual um autor instaura em seu próprio nome uma possibilidade infinita de discursos, passíveis de ser reinterpretados. 

No primeiro caso, o reexame de um texto (de Galileu ou Darwin, por exemplo) altera o conhecimento que temos da história do campo em questão (a mecânica, a biologia), sem modificar o campo em si, ao passo que no outro caso dá-se o inverso: o reexame do texto transforma o próprio campo. Desenvolveu-se um debate interminável, nessa perspectiva de uma distinção entre ciência “natural” e discursividade, sobre a questão não da auto-análise como investigação de si por si mesmo, mas como momento fundador, para o próprio Freud e, portanto, para o freudismo, de um campo de discursividade: o da psicanálise, sua doutrina e seus conceitos. 

A questão da auto-análise como investigação de si por si mesmo foi resolvida desde muito cedo pelo movimento psicanalítico. Em 14 de novembro de 1897, numa carta a Wilhelm Fliess, Freud declarou: “Minha autoanálise continua parada. Agora compreendi por quê. É que só posso me analisar servindo-me de conhecimentos objetivamente adquiridos, como em relação a um estranho. A verdadeira autoanálise é impossível, caso contrário já não haveria doença. Como meus casos têm me criado alguns outros problemas, vejo-me forçado a interromper minha própria análise.” Essas reservas incitaram Freud a tomar seus discípulos em análise, quer para que se tratassem como verdadeiros doentes, quer para que se tornassem psicanalistas. Estes, em seguida, instauraram os princípios gerais da análise didática e da supervisão, que posteriormente permitiriam dar esteio ao avanço da profissão.
Em conseqüência disso, a auto-análise como investigação de si mesmo foi banida dos padrões da formação, a não ser como prolongamento da análise pessoal.
Em situações excepcionais, Freud interessou-se por algumas tentativas de autoanálise,
como mostra seu comentário de 1926 sobre um artigo de Pickworth Farrow dedicado a uma
lembrança infantil que remontava aos seis meses de idade: “O autor [...] não conseguiu
chegar a um acordo com seus dois analistas [...]. Assim, voltou-se para uma aplicação conseqüente do processo de autoanálise de que me servi, no passado, para analisar meus próprios sonhos. Seus resultados merecem ser levados em consideração, em virtude de sua originalidade e de sua técnica.”

Depois de haver definido solidamente os princípios da análise didática, a comunidade
freudiana aceitou a ideia de que somente Freud, como pai fundador, havia realmente praticado uma auto-análise, isto é, uma investigação de si mesmo não precedida de uma análise. Por isso, ela desenhou um quadro de filiações em que o mestre ficou ocupando um lugar original: ele se havia “autogerado”. Assim, a auto-análise deixou de ser uma questão teórica e clínica para se tornar a grande questão histórica da psicanálise.

Passou-se então a indagar exclusivamente sobre a autoanálise de Freud, e portanto, sobre o
nascimento e as origens da doutrina psicanalítica. 
Freud mudou de opinião várias vezes quanto à duração dessa autoanálise, mas, ao tomarmos conhecimento de suas cartas a Fliess, constatamos que ela se desenrolou entre 22 de junho e 14 de novembro de 1897. Durante esse período crucial, o jovem médico abandonou a teoria da sedução em favor da teoria da fantasia e fez sua primeira interpretação do Édipo de Sófocles.Tal como Freud, os diferentes comentadores
alongaram a duração dessa experiência original, fazendo-a iniciar-se em 1895, com a publicação dos Estudos sobre a histeria, e situando seu fim em 1899, no momento em que foi
lançada A interpretação dos sonhos. Eles sublinharam que o período de junho a novembro
de 1897 correspondeu a uma autoanálise “intensiva”.

De qualquer modo, como salientou Patrick Mahony, uma coisa é certa: essa autoanálise
não foi um tratamento pela fala, mas pela escrita.
Seu conteúdo figura nas 301 cartas que Freud enviou a Fliess entre 1887 e 1904. Ora, essa
correspondência foi alvo de uma censura e, mais tarde, de um escândalo. Publicada pela
primeira vez em 1950, por Marie Bonaparte, Ernst Kris e Anna Freud, sob o título de O
nascimento da psicanálise, continha somente 168 cartas, das quais apenas 30 estavam completas.

Faltavam, portanto, 133, que só seriam publicadas em 1985, por ocasião da primeira
edição não expurgada, feita em língua inglesa por Jeffrey Moussaieff Masson. 
Sob esse aspecto, o estudo da auto-análise significação, foi um dos grandes desafios da
historiografia* freudiana, primeiramente oficial, com os trabalhos de Ernest Jones e Didier
Anzieu, depois acadêmica, com Ola Andersson e Henri F. Ellenberger, e por fim revisionista,
com a elucidação que Frank J. Sulloway fez dos empréstimos que Freud tomou de Fliess.
Foi Jones quem popularizou, em 1953, o termo auto-análise. Ele fez de Fliess um falso
estudioso, demoníaco e iluminado, que nunca produziu nada de interessante. Quando a Freud, transformou-o num verdadeiro herói da ciência, capaz de inventar tudo sem nada dever a sua época. E, para explicar o amor desmedido que esse deus nutria por Satã, entregou-se a uma interpretação psicanalítica das mais ortodoxas: Fliess teria ocupado junto a Freud o lugar de um sedutor paranoico e de um substituto paterno, do qual este último se haveria desfeito valentemente, através de um “trabalho hercúleo” que lhe permitiu ter acesso à independência e à verdade. Essa interpretação foi retirada da famosa declaração de Freud a Sandor Ferenczi: “Tive êxito onde o paranóico fracassa.” Com  algumas variações, ela foi adotada durante uns vinte anos pela comunidade freudiana.

Em 1959, Didier Anzieu a criticou, avaliando a auto-análise de Freud à luz de seus trabalhos
posteriores e, em particular, de A interpretação dos sonhos. Em seguida, os trabalhos da historiografia erudita modificaram radicalmente a idéia que se podia ter desse episódio. Ellenberger fez dele um momento essencial de toda forma de “neurose criadora” e, depois dele, Sulloway foi o primeiro, em 1979, a mudar de campo e estudar a auto-análise de Freud como o episódio dramático de uma rivalidade científica entre dois homens. Não obstante, numa perspectiva continuísta, ele rejeitou a ideia de que Freud houvesse inventado uma nova teoria da sexualidade e da bissexualidade e fez dele um herdeiro da doutrina fliessiana.
Marcado pela tradição francesa da história das ciências (a de Alexandre Koyré), Jacques
Lacan rompeu radicalmente com a concepção de Jones em 1953. Num belo comentário sobre o sonho “da injeção de Irma”, e sem conhecer a história de Emma Eckstein*, ele mostrou que na origem de uma descoberta há sempre uma de Freud, de sua duração, seu conteúdo e sua dúvida fundadora. Nenhum estudioso passa subitamente da “falsa” para a “verdadeira” ciência, e toda grande descoberta é tão somente a história de um  encaminhamento dialético em que a verdade está intimamente misturada ao erro. Essa foi também a tese de Jean-Paul Sartre em Le Scénario Freud, postumamente publicado.
Numa perspectiva idêntica, Octave Mannoni substituiu o termo auto-análise, em 1967,
pela expressão, mais exata, análise originária.

Sublinhou o lugar ocupado pelas teorias fliessianas na doutrina de Freud e mostrou que a
relação entre os dois homens foi a expressão de uma divisão complexa entre o saber e o delírio, entre a ciência e o desejo.







Fonte: Dicionário de psicanálise

AUTOEROTISMO




Termo proposto por Havelock Ellis e retomado por Sigmund Freud 
para designar um comportamento sexual de tipo infantil, em virtude 
do qual o sujeito encontra prazer unicamente com seu próprio corpo, 
sem recorrer a qualquer objeto externo.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

TRANSFERÊNCIA

TRANSFERÊNCIA


Conjunto de pensamentos, fantasias e emoções que focalizam o psicanalista no tratamento e constituem uma reatualização de movimentos psíquicos antigos que se relacionam à história infantil do indivíduo.

O fenômeno da transferência existe em toda relação entre indivíduos, que, no entanto, não sabem que repetem nessa ocasião emoções e roteiros estabelecidos durante a infância e recalcados.

Freud reconheceu na transferência ao mesmo tempo o motor do tratamento analítico e o maior obstáculo para o seu desenrolar. No tratamento analítico, a transferência remete a suas origens, por força da repetição das posições libidinais do paciente. Freud situa a transferência como uma dinâmica que permite, por meio de sua análise, ajudar o paciente a integrar à história de sua vida as representações e os elementos que surgem em relação ao analista e a avaliá-los em seu real valor, ou seja, como episódios passados.

A própria transferência pode se opor a esse trabalho por duas razões. A primeira é sua ambivalência. Como  toda posição afetiva, ela associa amor e ódio e pode ser fundamentalmente negativa. A segunda razão é sua origem libidinal. Ela pode ser marcada por uma forte carga erótica que provoca uma intensa resistência ou um amor de transferência pouco acessível à interpretação.

A transferência, como todos os fenômenos de retorno do recalcado, faz parte de um processo de repetição baseado na natureza da pulsão e sua necessidade de descarga. A repetição se opõe à rememoração buscada pelo tratamento. Esta é a razão pela qual a transferência é, para Freud, a princípio, análise de resistência.

CENSURA

CENSURA

Função cujo objetivo é impedir o acesso dos desejos inconscientes ao sistema pré-consciente-consciente. Freud deu esse nome +à instância psíquica que seleciona entre os sentimentos íntimos aqueles que a consciência pode admitir e rejeita os outros por eles serem perigosos ou por não estarem de acordo com as normas sociais e morais. Estes, recalcados no inconsciente, mas sem perder nada de seu dinamismo, reaparecem, de forma disfarçada, nos sonhos, nos atos falhos, ou nos sintomas neuróticos.

DEPRESSÃO



Afecção mental caracterizada por uma alteração profunda de humor, com presença de tristeza, sofrimento moral e retardo psicomotor.
Em geral acompanhada de angústia ou de ansiedade, a depressão alimenta no indivíduo uma dolorosa impressão de debilidade generalizada, de fatalismo desesperador, e às vezes provoca sensações contínuas de culpa, indignidade e autodepreciação, podendo levá-lo a considerar a possibilidade de suicídio ou até mesmo, em alguns casos, realizá-lo efetivamente.

Para os psicanalistas, a depressão pode ser comparada a um estado de luto que nunca chega ao fim. Uma outra corrente, oriunda da psicologia cognitiva, entende a depressão como uma perturbação dos processos cognitivos. As "estruturas cognitivas estáveis" seriam inadequadas em três áreas: o eu, o mundo exterior e o futuro. Essa "tríade cognitivo-depressiva" tinge de coloração negativa as representações ligadas a esses três campos. Essas diferentes abordagens são mais complementares do que opostas.

Os tratamentos

No plano somático, os tratamentos antidepressivos são fundamentalmente medicamentosos. A psicoterapia de inspiração analítica ou terapia cognitiva e comportamental permitem igualmente que os depressivos tomem consciência dos mecanismos psíquicos que provocam ou cultivam seu sofrimento mental e depois sejam capazes de evitar a reincidência.

domingo, 17 de março de 2013

SER OU NÃO SER NORMAL

ESCLARECENDO UM POUCO



Muita gente ainda acredita que psicanálise é uma técnica complicada que serve para investigar os doentes, para orientar-se dentro do labirinto de seus complexos, para libertá-los de suas ideias fixas e de suas angústias. Muita gente também acha que Freud não passava de um maníaco sexual.

É comum se ouvir alguém dizer: "Eu sou normal, não preciso de psicanálise." Os que assim falam têm razão em parte. Têm razão quando dizem que uma pessoa normal não deve esquadrinhar sua vida e se analisar, se esta segue tranquilamente seu curso, se alcança os fins a que se propõe, se ama e é amado, se cria vida e alegria ao seu redor e se desempenha um papel útil na sociedade. Estão equivocados os que pensam que a psicanálise ficou apenas como um método  de tratamento das neuroses, se ignoram que - além dessa função terapêutica - é também uma maneira de pensar, de ver a vida, de olhar ao próximo no que temos de mais afetivo, de olhar para nós mesmos com uma sinceridade que não se limita ao consciente, mas que chega as capas inconscientes de nossa pessoa e nos permite dispor melhor dela.

Não é muito legal dividir a humanidade em enfermos e sãos, mas não se pode negar que existem pessoas que por seu comportamento, suas exibições, suas extravagâncias, suas dificuldades para o trabalho, seu nervosismo, nos dão imediatamente a impressão de que são enfermas.

Sabemos que existem enfermos mentais em quem um transtorno orgânico, uma alteração material do cérebro comprometem tão gravemente o funcionamento de suas faculdades, que os sentimos completamente distanciados de nós. Mas entre esses enfermos, e sobretudo entre os medianamente enfermos e nós, onde está o limite divisório? Este limiar é bastante tênue não?

Desde que nascemos, lutamos contra as vicissitudes impostas pela vida, dificuldades afetivas em primeiros lugar, sobretudo os conflitos com nosso pais, com nosso ambiente e, mais tarde, como a sociedade. Reagimos a estas dificuldades de acordo com nossas heranças e com o meio que nos rodeia e sua atitude pedagógica. Nossa reação consiste em nos adaptar mais ou menos bem, raramente é uma reação perfeita. Os que reagem melhor, os que aceitam o fato de crescer, de separar-se da mãe etc, e fazem frente a novas situações, a novas exigências que a vida lhe impõe, esse são chamados se sãos. Ao contrário, aqueles que encontram dificuldades em superar essas etapas da evolução, conservam facilmente formas de reação que estão em retardo com relação a sua idade. Estes são os neuróticos.

QUEM MAIS SE BENEFICIA COM A PSICANÁLISE SÃO OS NEURÓTICOS OU OS SUJEITOS MAIS PRÓXIMOS DA NORMALIDADE??

Alguns psicanalistas acreditam que são os sujeitos mais próximos da normalidade (curados das suas neuroses) os que mais se beneficiam em maior grau com uma tomada de consciência analítica; já que acreditam que a psicanálise pode ser muito mais útil a pessoa "normal" do que aquela que está enferma.

E você? O que acha?? Deixe aqui seu comentário.

Rosângela Gonçalves








quinta-feira, 14 de março de 2013

HISTÓRIA DA PSICOLOGIA

HISTÓRIA DA PSICOLOGIA




Embora o homem desde sempre tenha se esforçado para sondar os mistérios de sua alma, foi apenas a partir do século XIX, sobre um terreno preparado pela evolução das ideias filosóficas e pelo progresso rápido da fisiologia, que a psicologia se constituiu como discurso e saber autônomos.

Origens e desenvolvimento da psicologia

A conversão da fisiologia ao método experimental e a construção de instrumentos de medida aperfeiçoados dão origem, na Alemanha, aos primeiros progressos em matéria de fisiologia das sensações e de fisiologia do sistema nervoso (descoberta das células do sistema nervoso), bem como ao estabelecimento dos primeiros modelos psicofísicos e psicofisiológicos. Em seguida, diversas correntes e teorias fecundas se desenvolveram

Correntes e teorias

Com o behaviorismo iniciado por Watson, a psicologia, rejeitando a introspecção, se afasta do estudo da consciência e se transforma em ciência do comportamento. A observação exterior do comportamento é suficiente para estabelecer leis que permitam prever as reações a determinadas variações ambientais. A observação objetiva se aplica às variáveis da situação (estímulo) e às variáveis comportamentais (reações, respostas). A psicologia se torna, claramente, a ciência do comportamento.

Nos anos 1920, praticamente todos os psicólogos americanos eram behavioristas, e eles exerceram uma influência considerável. No campo da aprendizagem, o behaviorismo se mostra bastante fecundo.

O gestaltismo

O gestaltismo, iniciado pelo psicólogo alemão Max Wertheimer (1880-1947), estuda a percepção e, especialmente, a organização das formas, os princípios de relatividade e de transposição, o isomorfismo das formas físicas e fisiológicas. No campo da psicologia social, Kurt Lewin (1890-1947) abre perspectivas importantes na dinâmica de grupos.

A psicologia clínica e a psicanálise

Pierre Janet (1859-1947) e Sigmund Freud estão na origem de uma prática psicológica chamada "psicologia clínica", baseada na entrevista e no exame aprofundado de caso por meio do contato individual.

A psicologia infantil e a epistemologia genética

Henri Wallon (1879-1962) e depois Jean Piaget (1896-1980), criador da epistemologia genética, se dedicam à psicologia infantil. Wallon é um dos principais nomes dessa área. Ele elabora uma teoria de desenvolvimento da criança em fases. Piaget mostra que o desenvolvimento da criança se realiza de maneira gradual e contínua, até a aquisição de um pensamento adulto, com uma conceituação cada vez mais abstrata. Os trabalhos de Piaget, por mais que hoje sejam polêmicos, exercem uma influência considerável.

Os campos da psicologia

É possível identificar diversos campos de aplicação da psicologia, mas os campos e os métodos nem sempre concordam entre si.


  • A psicologia animal e a etologia se interessam pelos comportamentos animais, naquilo que eles têm de específico (comportamentos rituais, comunicação etc)
  • A psicologia infantil e do desenvolvimento estudam a evolução da criança desde o nascimento.
  • A psicologia social leva em consideração as interações do indivíduo com o grupo social ao qual pertence e com a sociedade. Ela se interessa, por exemplo, pela formação dos julgamentos sociais de cada um, pela comunicação, pelo ambiente (estilo de vida, industrialização, urbanização, processos cognitivos desses dados).
  • A psicologia diferencial estuda as diferenças observadas na conduta de indivíduos e de grupos colocados em situações previamente listadas. Seus métodos se baseiam na utilização de testes e de questionamentos, assim como em estatísticas. O objetivo dos pesquisadores é delimitar a origem das diferenças individuais.
  • A psicologia clínica é uma especialidade que pões em ação métodos e conceitos exteriores à psicologia, como noções oriundas da psicanálise. Seu objetivo é estudar o indivíduo, doente ou saudável, naquilo que ele tem de específico, irredutível a qualquer outro indivíduo.
  • A psicologia se situa na interseção entre psicologia e fisiologia. Suas pesquisas vão, por exemplo, da simples busca de correlações entre comportamentos e indícios fisiológicos até a comprovação de laços de causalidade entre o funcionamento de uma estrutura nervosa e um comportamento.
  • A neuropsicologia visa estabelecer uma relação inteligível entre os processos psicológicos superiores e o funcionamento do cérebro. Ela se coloca, portanto, no limite da neurociência e se interessa pelos fenômenos de maturação e de senescência. Também tem como objetivo analisar os déficits comportamentais.

O sucesso da psicologia cognitiva

A ascensão da psicologia cognitiva por volta dos anos 1950 está ligada ao desenvolvimento da informática. Os progressos da neurologia, tanto no nível molar (o cérebro considerado em seu conjunto) quanto no nível celular (a transmissão da informação no nível dos neurônios), também foram determinantes. A mente como sistema de tratamento da informação é uma metáfora, mas igualmente um modelo de funcionamento. A psicologia cognitiva, que representa atualmente uma das correntes mais fecundas da psicologia, efetua trocas com outros campos, como a informática, a inteligência artificial, a linguística, a neurologia, a lógica e uma parte da filosofia. Juntas constituem as "ciências cognitivas".


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A psicologia em 50 verbetes - Tradução Debora Fleck - São Paulo - Ed. La Fonte - 2012.











HISTÓRIA DA PSICANÁLISE

HISTÓRIA DA PSICANÁLISE




A psicanálise teve início a partir de um trabalho clínico dedicado à histeria. As pessoas histéricas sofriam de sintomas físicos incapacitantes (paralisias, paresias, anestesias etc) sem causas orgânicas identificáveis. Por volta do final do século XIX, tentava-se fazer desaparecer os sintomas por meio da sugestão, colocando esses pacientes em um estado de hipnose.

Os princípios da psicanálise

A psicanálise parte de um postulado segundo o qual tudo o que aparece nos sonhos e nos atos falhos comporta uma dimensão que permanece oculta. Trata-se do inconsciente, produto de uma série de acontecimentos ocorridos no início da infância - talvez até mesmo antes disso - e que se relacionam ao desenvolvimento da sexualidade no sentido amplo, a princípio não genital (o prazer da boca, da excreção). Tais acontecimentos são censurados.

Por volta dos 3 anos de idade, a criança descobre a diferença entre os sexos. Em seus primeiros anos, ela vive, portanto, acontecimentos fundamentais, que talvez jamais tenham ocorrido efetivamente, mas que afloram em sua consciência: o espetáculo do coito entre seus pais (cena geralmente fantasiada) e a castração. Para o menino, trata-se da ameaça de ter o sexo cortado devido à masturbação, que significa para ele a descarga normal dos desejos edipianos. Para a menina, a visão daquilo "oque lhe falta" leva-a a ter inveja do pênis, o que a conduz da sexualidade ao desejo de ter um filho de seu próprio pai, fazendo-a entrar na evolução normal da heterossexualidade.

Para a criança, as proibições sociais, mesmo não formuladas, estão na origem do recalque das representações ligadas à sexualidade na direção do inconsciente, o qual vai se carregar de energias potenciais. O que foi recalcado tende sempre a retornar sob a forma de sintomas, atos falhos, lapsos, sonhos etc. É o conjunto desses conflitos que cria o ser humano.

O complexo de Édipo é a descoberta de um processo fundamental: o ciúme que a criança sente em relação ao genitor do mesmo sexo e o desejo inconfessado de eliminá-lo para em seguida substituí-lo. Esse conflito dá origem a neuroses quando o Édipo não encontra uma saída favorável, e desaparece quando o indivíduo descobre outros objetos.

A sessão analítica e suas regras fundamentais

As neuroses e algumas outras tensões psíquicas que traduzem o mal-estar do indivíduo podem levá-lo a consultar um psicanalista.

Durante a sessão de análise, as associações do paciente permitem retraçar o curso do processo de recalque e trazer à tona os desejos inconscientes. Portanto, a primeira regra fundamental da psicanálise é a associação livre: pede-se ao paciente que se permita dizer tudo o que lhe vem à mente, mesmo que seja algo que lhe pareça inútil, inadequado ou estúpido. Exige-se dele que não omita, em hipótese alguma, nenhum pensamento, seja ele vergonhoso ou penoso. Essa regra fundamental estrutura a relação entre analista e paciente.

Ao mesmo tempo, opera-se uma transferência de sentimentos de amor ou de ódio em relação à própria prática de análise e à pessoa do analista. Resistência e transferência condicionam o fato de reviver situações conflituosas antigas ou lembranças traumáticas recalcadas, podendo a situação de revivescência trazer um obstáculo ao trabalho de tratamento. Para superar essa situação de bloqueio, é necessário que tudo o que resulta da análise - os acontecimentos que nela se produzem, as imagens, os pensamentos secretos, os silêncios etc - seja igualmente analisado, pois faz parte do sintoma que o paciente deve trabalhar para se libertar da lembrança. Cabe ainda ao analista saber em quais situações ele é capaz de sustentar a transferência, em função da própria experiência passada e de sua intuição quanto a seus processos inconscientes.

A psicanálise: um saber, uma prática

A psicanálise não é uma ciência, porque se produz com a ajuda de enunciados que escapam ao critério da verificação. Porém, essa crítica permanece sem impactos notáveis. Em todo caso, trata-se de um saber constituído e sobretudo de uma prática que envolve uma relação pessoal com a experiência freudiana. Para que um indivíduo se torne psicanalista, e tenha uma prática psicanalítica real e eficaz, supõe-se que ele mesmo já tenha se submetido à psicanalise.

A história do movimento

O desenvolvimento da psicanálise caminhou lado a lado com a sua estruturação institucional (criação da International Psychoanalytical Association em 1910) e foi acompanhado de distanciamentos e de divisões (Alfred Adler, Carl Gustav Jung, Otto Rank, Sándor Ferenczi, Wilhelm Reich). Viena, cidade de Freud, foi, durante muito tempo o centro do movimento psicanalítico, até que o nazismo obrigou grande parte dos psicanalistas a emigrar para os Estados Unidos.

Nos países comunistas, a psicanálise foi banida por ser considerada uma ciência burguesa e reacionária. Na Grã-Bretanha, onde Freud se refugiou em 1938, ela conhecerá uma recuperação teórica importante, graças aos trabalhos de Melanie Klein, Anna Freud e Donald Woods Winicott.










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A psicologia em 50 verbetes - Tradução Debora Fleck - São Paulo - Ed. La Fonte - 2012.

TRANSTORNOS BIPOLARES

TRANSTORNOS BIPOLARES




Alternâncias de acessos de euforia e episódios depressivos. Estes são os dois polos entre os quais oscilam as pessoas que sofrem de transtornos bipolares (anteriormente chamados de "psicose maníaco-depressiva"). Esses transtornos afetam cerca de 5% da população.

O acesso de euforia ou de mania

O começo é em geral brusco. A pessoa se torna exuberante, hiperativa, apresenta insônia e pode até mesmo chegar à megalomania. O acesso de euforia às vezes é precedido de um sinal premonitório. Um acesso depressivo de maior ou menor intensidade quase sempre vem após esse estado de exaltação.

O acesso de depressão

Em geral os aceso depressivo se forma em alguns dias ou algumas semanas. O interesse em relação ao trabalho, ao lazer, à vida familiar e social, assim como o sono, se deteriora. O indivíduo se queixa de uma fadiga que o repouso não é capaz de amenizar. Surge inquietação, irritabilidade e passa a ter dificuldade para encarar a vida. O desânimo, a indecisão, a apreensão ansiosa em relação ao futuro vão impregnando aos poucos a vida cotidiana do indivíduo.

Os tratamentos

Os neurolépticos e os reguladores de humor, como os sais de lítio, fazem parte do tratamento indicado para as crises de euforia. As depressões respondem favoravelmente aos antidepressivos cerca de quatro semanas após iniciado seu uso. Atualmente as terapias comportamentais ou cognitivas mostram mais assertividade em relação às outras psicoterapias indicadas para esses casos.









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A psicologia em 50 verbetes - Tradução Debora Fleck - São Paulo - Ed. La Fonte - 2012.

segunda-feira, 11 de março de 2013

RECALQUE

RECALQUE




Processo por meio do qual o inconsciente afasta - e mantém afastadas - as satisfações pulsionais, frequentemente sexuais, incompatíveis com outras exigências (morais, sociais etc)

O recalque opera de acordo com lugares psíquicos que definem um aparelho psíquico. A satisfação pulsional é desviada, anulada, deslocada e sublimada de modo a permitir um prazer suportável.

O recalque contém uma noção dinâmica de compostura e de repressão, assim como uma noção de deslocamento. É sinônimo do conceito de inconsciente.






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A psicologia em 50 verbetes - Tradução Debora Fleck - São Paulo - Ed. La Fonte - 2012.

PSICOSE

PSICOSE




Afecção mental caracterizada por uma alteração profunda na personalidade e nas funções intelectuais e pelo fato de o indivíduo não ter consciência do próprio estado.

As psicoses, cujas causas psíquicas ou bioquímicas são pouco conhecidas, são geralmente crônicas. Muitas vezes são caracterizadas por delírios, alucinações e por uma personalidade patológica. Podem ter uma repercussão importante nas relações sociais e profissionais. As principais psicoses são os transtornos bipolares, a paranoia e a esquizofrenia.

A paranoia é uma psicose caracterizada por um delírio cujos temas principais são a perseguição e a reivindicação (vontade irredutível de fazer triunfar uma demanda rejeitada pela sociedade). Sua aparição é tardia, geralmente dos 35 aos 45 anos, e acomete principalmente os homens.

A esquizofrenia é uma psicose grave que acontece mais com os adolescentes  ou jovens adultos (1% a 2% da população). Essa doença se manifesta por meio de uma alteração na personalidade e sobretudo pela perda de contato com a realidade, o que pode provocar delírios (alucinações audíveis).






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A psicologia em 50 verbetes - Tradução Debora Fleck - São Paulo - Ed. La Fonte - 2012.

NÃO SOMOS APENAS O QUE PENSAMOS SER.


sexta-feira, 8 de março de 2013

NEUROSE

NEUROSE




Afecção psíquica ligada às transformações da vida sexual infantil, que resulta  de um conflito interior inconsciente entre as tendências que expressam o desejo e aquelas que lhe impõem o recalque.

Em geral o indivíduo não tem um caráter (ou personalidade) patológico e permanece consciente do seu problema. Os sintomas mentais (ansiedade ou angústia, por exemplo) podem se associar a sinais somáticos (espasmos) e a distúrbios do comportamento (agitação). Há quatro tipos clássicos de neurose: de angústia, obsessiva, fóbica e histérica.

A histeria é uma neurose caracterizada por um tipo de personalidade patológica (teatralidade, necessidade de seduzir, por exemplo) ou pela transformação de transtornos psíquicos em sintomas físicos (falsa paralisia, mal-estar).





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A psicologia em 50 verbetes - Tradução Debora Fleck - São Paulo - Ed. La Fonte - 2012.

LAPSO

LAPSO




Falha cometida, por inadvertência, na fala ou na escrita e que consiste em substituir uma palavra que se gostaria de dizer por outra.

Uma palavra aparece no lugar de outra ao longo de uma frase: o que talvez fosse considerado um simples erro, Freud demonstrou que poderia, na verdade, se tratar de algo intencional ligado à atividade inconsciente. A censura entra, assim, em curto-circuito, o que permite que os pensamentos rechaçados venham à tona. O ato aparentemente falho é de fato bem-sucedido se pensarmos no ponto de vista do desejo inconsciente.

Em Psicopatologia da vida cotidiana (1901) Freud cita um, lapso célebre. O presidente da Câmara dos Deputados do Parlamento austríaco abriu a sessão da seguinte forma"Senhores, constato a presença dos membros desta casa em quorum suficiente e, portanto, declaro encerrada a cessão".

Freud prossegue: "A explicação mais plausível nesse caso seria a seguinte: no seu interior, o presidente desejava já poder encerrar  a sessão, da qual não esperava nada de bom; mas esse pensamento colateral, como frequentemente ocorre, irrompeu, ao menos de maneira parcial, e o resultado foi 'encerrada' em vez de 'aberta' - ou seja, o contrário do que pretendia dizer".

Que façam rir ou sorrir, que constranjam, que ofendam ou que choquem, o fato é que os lapsos e os atos falhos dão o que pensar. Certamente eles não têm a mesma pompa do sonho, mas o que oferecem é o desnudamento da vida inconsciente.







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A psicologia em 50 verbetes - Tradução Debora Fleck - São Paulo - Ed. La Fonte - 2012.



SIGMUND FREUD

SIGMUND FREUD

Neurologista austríaco, criador da psicanálise (nascido em Freiberg, hoje denominada Príbor, Morávia, em 1956, e morto em Londres, em 1939.



Entre Viena, Berlim e Paris

Sigmund Freud é descendente de uma família judia da pequena burguesia. Ele tem apenas 4 anos quando a família se instala em Viena e viverá na cidade até 1938, ano em que a Áustria é anexada à Alemanha. Depois de uma fase escolar brilhante, ele se volta para os estudos de medicina em 1873. Na universidade, se depara com um antissemitismo onipresente. Em 1876 começa a trabalhar no laboratório de E. von Brücke, onde desenvolve pesquisas em torno da fisiologia e da patologia do sistema nervoso. Termina os estudos de medicina em 1881, mas seus recursos não permitem que ele continue a carreira de pesquisador. Encarregado de um estudo sobre a cocaína, descobre em 1884, suas propriedades analgésicas. Uma bolsa lhe proporciona uma oportunidade de ir à Paris, em 1885, fazer um estágio com Jean-Martin Charcot, na Salpêtrière. Lá observava as manifestações de histeria e os efeitos do hipnotismo. Em 1886 Freud troca Paris por Berlim, onde se interessa pela neuropatologia infantil.

Quando volta a Viena, abre o próprio consultório. No mesmo ano casa-se com Martha Bernays, de quem era noive desde 1982. Freud começa a formar uma clientela entre os pacientes com "problemas nervosos", em sua maioria acometidos de histeria, que ele trata, como fazia à época, como eletroterapia e hipnose.

O nascimento do inconsciente e da psicanálise

Após uma paciente tê-lo levado a adotar o método das associações livres, Freud renuncia à hipnose, substituindo-a pelo estado de simples relaxamento do paciente. De 1892 a 1895, publica algumas traduções de Charcot (Lições de terça feira), um artigo intitulado "As neuropsicoses de defesa" e outro com o título de "Obsessões e fobias". Em colaboração com Breuer, publica os Estudos sobre a histeria (1895), obra mal recebida no meio médico.

Nessa obra já é possível encontrar os princípios fundamentais da psicanálise: as noções de inconsciente, de deslocamento e de recalque.

A correspondência que Freud estabelece com Wilhelm Fliess desempenha um papel essencial para o processo de autoanálise que ele está empreendendo nessa época. Durante dez anos ele não terá discípulos nem colaboradores, concentrando sua atividade no tratamento de doentes e na criação da psicanálise. Freud descobre o complexo de Édipo em outubro de 1897. Em 1899 publica Lembranças encobridoras e em 1900, A interpretação dos sonhos, uma de suas obras fundamentais para a psicologia. Pela primeira vez o sonho é objeto de um estudo científico. Ainda em 1900 inicia a análise de uma jovem histérica, a quem ele chama de Dora em seus escritos. Em 1901 publica Sobre os sonhos e escreve Fragmentos da análise de um caso de histeria (O caso Dora); publicado em 1905, que analisa a função traumática da sexualidade na histeria e o papel da homossexualidade. Freud faz uma viagem a Roma e publica Psicopatologia da vida cotidiana. Em 1905 são editados seus Três ensaios sobre a teoria da sexualidade, que é a sua segunda obra principal, assim como Os chistes e sua relação com o inconsciente.

A instituição analítica

Nessa época psicanalítica se torna a teoria do funcionamento do aparelho psíquico. Em 1908 é fundada a Sociedade Psicanalítica de Viena, mas desde antes dessa data vai sendo progressivamente constituída em torno de Freud a instituição analítica. A partir de 1902 a "Sociedade Psicológica das Quartas-Feiras" começa a agrupar seus primeiros discípulos. Paul Federn, Otto Rank, Wilhelm Stekel, Alfred Adler, entre outros. Freud se corresponde com Eugen Bleuler a partir de 1904 e recebe em 1907 a visita do assistente dele Carl Jung, que funda em Zuriqui, no mesmo ano, a Sociedade Freud. Em 1910, em Nuremberg, acontece o segundo congresso de psicanálise, data em que é fundada a Associação Psicanalítica internacional, cuja presidência é confiada a Jung. no entanto, ocorrem rupturas e separações entre Freud e seus discípulos e mais próximos.

Em 1912 Freud começa a discutir a questão do pai, à qual irá retornar em Moisés e o monoteísmo, em 1939. Ele produz inúmeros textos, de importância decisiva: Leonardo da Vinci e uma lembrança de sua infância (1910), Notas psicanalíticas sobre um relato autobiográfico de um caso de paranoia (o presidente Schreber) (1911), Totem e tabu (1912-13), em que busca retraçar a história das origens da humanidade, Sobre o narcisismo (1917): uma introdução (1914), Luto e melancolia (1917), Introdução à psicanálisse (1916-17) e O estranho (1919).

Pulsões de vida, pulsões de morte.

Em Além do princípio de prazer (1920), Freud introduz as noções de pulsão de vida (Éros) e pulsão de morte (Thanatos), princípio de realidade e princípio de prazer, e propõe um novo modelo do aparelho psíquico, composto de três instâncias: o id, o ego e o superego (O ego e o id, 1923). A teoria do ego e da identificação será um dos temas essenciais de Psicologia das massas e análise do ego (1921). Em A negação (1925), ele sublinha a importância da linguagem e da palavra para o tratamento analítico.

A partir desse período, Freud passa a se dedicar mais aos grandes problemas da civilização (O futuro de uma ilusão, 1927; O mal-estar na civilização, 1930). Nesta última obra, desenvolve sua concepção de mundo, destacando a submissão da civilização às necessidades econômicas, que impõem um pesado fardo não somente à sexualidade, mas também à agressividade, em troca de um pouco de segurança.

Em 1923 Freud é submetido a uma primeira cirurgia para tratar de um câncer na mandíbula. Recebe o prêmio Goethe em 1930, em 1934 os nazistas queimam suas obras em Berlim. Ele consegue sair de Viena em 1938 e se instala em Londres. Moisés e o Monoteísmo é publicado em 1939. Freud continuará tratando seus pacientes praticamente até sua morte em 23 de setembro de 1939.








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A psicologia em 50 verbetes - Tradução Debora Fleck - São Paulo - Ed. La Fonte - 2012.











HIPNOSE


HIPNOSE




Estado alterado de consciência, entre a vigília e o sono, induzido pela sugestão  de outra pessoa, chamada de "hipnotizador".

Foi um dentista de Manchester, James Braid, que, após utilizar a hipnose como método para anestesiar seus pacientes, elaborou uma primeira teoria do hipnotismo. Freud*, por sua vez, iria demonstrar que a hipnose permitia o surgimento de manifestações da atividade do inconsciente, e é a partir de sua prática que ele iria criar a psicanálise.

É graças à iniciativa de um psiquiatra americano, Milton Erickson (1901 - 1980), que esse método terapêutico vai sofrer uma verdadeira renovação e oferecer um largo campo de aplicações na área médica e psiquiátrica. A hipnose moderna, chamada de "ericksoniana", requer a participação ativa do paciente. Ela pode ser comparada a um estado de profundo relaxamento durante o qual o paciente pode se expressar livremente. O terapeuta utiliza uma abordagem flexível, indireta (emprego de metáforas) e não intervencionista para guiar o inconsciente do indivíduo e levá-lo a encontrar por sí próprio as soluções para os seus problemas. Dessa forma, o terapeuta se apoia sobre a mobilização dos recursos de que o paciente dispõe.

Algumas pessoas acreditam que a psicanálise renovou o interesse tradicional atribuído aos eventos da existência para compreender ou interpretar o comportamento e as obras dos homens excepcionais, mas Freud, mais conhecido como o "Pai da Psicanálise" nega este fato categoricamente conforme carta enviada à A. Zweig, em 31 de maio de 1936, onde dizia: "Quem quiser se tornar biógrafo deve se comprometer com a mentira, a dissimulação, a hipocrisia e até mesmo com a dissimulação de sua incompreensão, pois a verdade biográfica não é acessível e, se o fosse, não serviria de nada".






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PSICANÁLISE

PSICANÁLISE

O termo psicanálise, usado para definir a disciplina fundada por Sigmund Freud, significa "análise da alma". Este termo abrange dois aspectos diferentes:

1. A teoria relativa à vida psíquica, tal como é determinada pelo inconsciente.
2. A técnica psicoterapêutica que utiliza este método.

A psicanálise, situando-se no prolongamento da descoberta progressiva dos fenômenos inconscientes ao longo do século XIX, marca uma ruptura porque renova de forma radical a concepção do indivíduo humano. Para Freud, a personalidade se forma a partir do recalque no inconsciente de situações vividas na infância como fontes de angústia e de culpa (importância, especialmente do complexo de Édipo). A sexualidade, de modo geral, desempenha um papel primordial. O surgimento de elementos recalcados e, além disso, toda patologia psíquica dependem do complexo jogo entre as instâncias que compõem o aparelho psíquico, para o qual Freud propôs dois modelos sucessivos (primeiro: inconsciente, consciente e pré-consciente; depois: id, ego e superego).

O desenvolvimento da psicanálise caminhou lado a lado com a sua estruturação institucional e foi acompanhado de distanciamento e de divisões. Na França Jacques Lacan é a figura-chave de uma história atribulada. Como terapêutica, a psicanálise visa a tomada de consciência do que foi recalcado em benefício do tratamento, marcado pelos fenômenos da resistência e da tranferência.







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INCESTO

INCESTO




Relação sexual proibida entre um homem e uma mulher ligados por um grau de parentesco que leva ao impedimento do casamento. É preciso distinguir três níveis de incesto.

1. O incesto imaginário - Corresponde a todos os atos, atitudes, sinais e declarações emitidos pela criança que podem lembrar para o adulto o modo de sedução adulto. Mas também os jogos do adulto quando ele se põe a brincar , no seio da família, como criança, obrigando a criança a se colocar no seu lugar de adulto (o menino no lugar imaginário do pai, a menina no lugar imaginário da mãe).

2. O incesto simbólico - A proibição do incesto é realçado por Freud como uma lei social que responde a uma estrutura psíquica. Ela é instruída como tabu por ser fundamentalmente desejada. A lei da proibição do incesto vem, portanto, conter os impulsos de natureza incestuosa presentes em todos os indivíduos. Essa lei possui dois aspectos; separar a criança de sua mãe e diferenciá-la.

3. O incesto real - Designa a/as passagens ao ato sexual que podem se apresentar de inúmeras formas (toques, violação etc).

O incesto não tem como objeto apenas o sexo mas também o indivíduo. Assim, o pai incestuoso se destrói enquanto o pai da mesma forma destrói a criança enquanto filho/filha e enquanto criança.

O incesto provoca fendas profundas no indivíduo, que se traduzem em transtornos de humor, da memória, do corpo, do afeto, do comportamento e do laço social. As crianças vítimas de incesto geralmente recorrem a mecanismos de sobrevivência, o que provoca sérios desvios de personalidade.





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quinta-feira, 7 de março de 2013

FOBIA

FOBIA




Medo injustificado e permanente de um objeto, de um ser vivo ou de uma situação determinada, que, em si mesmos não apresentam nenhum perigo.

As fobias simples

Algumas fobias duram a vida toda. Outras diminuem ou até mesmo desaparecem espontaneamente com a idade, este é o caso das fobias simples, fobias de pequenos animais (ratos, pássaros, insetos etc) ou fobias de objetos (armas, copos quebrados etc) ou de situações (viajar de avião, estar em um ambiente fechado, em um lugar alto etc).

As fobias que atrapalham a vida cotidiana

Outros transtornos fóbicos podem adquirir um caráter obsessivo e atrapalhar o dia a dia, como é o caso da fobia social e da agorafobia.

Na fobia social, o indivíduo evita as situações nas quais pode ser observado e criticado pelos outros: falar em público, ir a um restaurante etc; medo de ruborizar-se, de tremer ou mesmo de vomitar pode acompanhar esse tipo de fobia. Ela costuma aparecer durante a adolescência ou às vezes antes disso.

A agorafobia engloba os medos de deslocamentos (atravessar uma rua, passar debaixo de uma ponte ou por um túnel) ou de certos lugares fechados, como elevadores, salas de cinema ou grandes lojas de departamento.

O tratamento das fobias depende fundamentalmente das psicoterapias, da psicanálise ou de uma terapia cognitivo e comportamental (TCC), que visa permitir que o indivíduo enfrente sem angústia o objeto fobígeno. A ansiedade e os efeitos depressivos associados a essas fobias podem ser paralelamente tratados com substâncias químicas.







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FASE

FASE





Etapa no recorte da cronologia do desenvolvimento que vai do bebê ao adolescente, baseada na existência de descontinuidade, mudanças de ritmo ou mudanças qualitativas observada na evolução somática, fisiológica ou comportamental da criança.

As fases de acordo com Freud

As fases são definidas por sua ordem de sucessão. No que concerne à evolução libidinal, tal como Freud a sistematizou, é a primazia de uma zona erógena, nascida de um prazer despertado pelo funcionamento dessa zona, que caracteriza cada fase: cavidade bucal, no caso da fase oral, zona anal, no caso da fase homônima (em torno de 2-3/4 anos, aparelho genital, no caso da fase fálica (3-4/5anos) e, por fim, a fase genital (atingida depois da puberdade). O período da latência (entre 6 e 12 anos) conclui a fase fálica.

Esse período vai do declínio da sexualidade infantil (6 anos) até a entrada na adolescência) e na puberdade. Observa-se nesse período uma dessexualização das relações de objeto e dos sentimentos (predominância da ternura, surgimento do pudor etc) e o processo de sublimação (interesse por criações artísticas, posicionamentos morais etc). 

O período de latência traduz uma intensificação do recalque, que conduz a uma amnésia infantil, ao mesmo tempo em que é reforçada a identificação com os pais.

por fim, este período está ligado ao declínio do complexo de Édipo e suas formas de resolução.











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FANTASIA

FANTASIA




Roteiro imaginário consciente ou inconsciente que envolve o indivíduo e coloca em cena seu desejo de forma mais ou menos disfarçada.

Existem as fantasias conscientes, assimiladas aos devaneios diurnos  e as fantasias inconscientes, que estão na origens dos sonhos, dos lapsos e dos atos falhos.

Algumas fantasias inconscientes só se tornam acessíveis aos indivíduo por meio do tratamento analítico, enquanto outras permanecem para sempre recalcadas.

Para Freud, o desejo inconsciente do indivíduo pode ser representado por diversos personagens que podem figurar na fantasia. A realização do desejo na fantasia está fortemente associada à presença do proibido. Por  fim, as fantasias inconscientes podem estar na origem de algumas neuroses.






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CULPA

CULPA




Sentimento consciente ou inconsciente de falha ou imperfeição.

A culpa está associada à dívida. "Conhecemos, assim, duas origens do sentimento de culpa: uma que surge da angústia diante do superego. A primeira força o homem a renunciar a satisfazer seus instintos. A segunda, dada a impossibilidade de esconder do superego a persistência dos desejos proibidos, leva o indivíduo a se punir" (Freud, O mal-estar na civilização, 1929).

Para Freud,, a culpa tem origem no complexo de Édipo. Nos casos de depressão, ela tem igualmente amplo espaço. Os sentimentos de indignidade e de desvalorização permitem que o indivíduo volte contra si mesmo as críticas que não pode fazer ao outro. Na realidade, a culpa está mais relacionada a uma extinção do desejo e a um narcisismo negativo bastante rancoroso que não se pode expressar senão por meiio da autoacusação.











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COMPULSÃO

COMPULSÃO




Tendência interna imperativa que incita o indivíduo a executar determinada ação a pensar em certa ideia, apesar de ele reprová-la e bloqueá-la no plano consciente.

A despeito de seu caráter irresistível, o indivíduo pode lutar contra essa tendência, cuja não execução provoca nele um sentimento de angústia. às vezes ele acaba nem chegando ao ato, ou então transforma-o em rituais repetitivos inofensivos, o que não é o caso do impulso, em que o fato de agir o arrasta quase imediatamente na direção dessa luta ansiosa.






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COMPLEXOS

COMPLEXOS



Conjunto de sentimentos e de representações parcial ou totalmente inconscientes, providos de potência afetiva que organiza a personalidade de cada um e as formas de se relacionar com o outro. Os complexos remetem aos desejos sexuais infantis relacionados aos progenitores.

Freud reservou o uso desse termo a dois complexos, o Complexo de Édipo e o Complexo de Castração, organizadores da sexualidade infantil.

Chama-se Complexo de Édipo o conjunto de investimentos amorosos e hostis vivenciados pela criança em relação aos pais durante a fase fálica, entre 3 e 5 anos (apego erótico em relação ao genitor do sexo oposto, ódio em relação ao genitor do mesmo sexo, visto como rival), cujo resultado ulterior normal é a identificação com o genitor do mesmo sexo.

Ele se torna mais complexo por causa da ambivalência e do bissexualismo característicos dos seres humanos, e a criança conserva o desejo de ser amada pelo genitor do mesmo sexo.

O Complexo de Castração nasce da constatação por parte da criança da diferença entre os sexos e da confusão psíquica provocada nela pela ausência ilusória do órgão masculino. Freud indica que o complexo de castração, por meio da renúncia do desejo da criança em relação à mãe, põe fim ao complexo de édipo.

Esses dois complexos estabelecem a lei da proibição do incesto, representada pelo pai, e marcam a passagem da criança ao status de sujeito social,pela perspectiva de uma renúncia à mãe, de uma identificação sexual e da constituição do ideal do ego e do superego.

ATO FALHO

ATO FALHO




Ato socialmente inadequado que realiza um desejo inconsciente. O ato falho, para Freud (Psicopatologia da vida cotidiana, 1901), faz parte das lacunas do controle consciente, junto com o sonho e o lapso.

Perder as chaves, esquecer um encontro importante, ir mal em uma prova, apesar de intensa preparação, são alguns exemplos de ato falho. Ele constitui um sintoma - na maioria das vezes benigno - que assegura um compromisso entre o eu consciente e um desejo inconsciente recalcado de forma imperfeita. Sob o ponto de vista do desejo reprimido, trata-se de um ato bem-sucedido.












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APEGO

APEGO




Conjunto de laços estabelecidos entre um bebê e sua mãe, a partir de sensações e percepções do lactente em relação à progenitora e, reciprocamente, da mãe em relação a seu bebê.

Desde o terceiro dia do nascimento, o bebê é capaz de reconhecer o gosto do seio e do colo da mãe, e de os diferenciar daqueles de outra mulher que tenha um recém-nascido com o mesmo tempo de vida. Além disso, ele consegue distinguir a voz, o cheiro da sua pele e a qualidade do seu toque.

A noção de apego foi introduzida na psicologia em 1959 pelo psiquiatra britânico John Bowlby (1907-1990), a partir dos estudos da etologia. Harry Frederik Harlow apresentou a jovens macacos Rhesus duas mães artificiais, uma feita apenas de armação de arame, mas munida de uma mamadeira com leite, e a outra sem mamadeira, mas forrada de pelos. Os filhotes corriam em direção a esta última, preferindo o contato e o calor da pelagem em lugar do leite. Tal observação contradizia a tese da psicologia segundo a qual o laço com a mãe origina-se da satisfação da necessidade de alimento.

Para Bowlby, não há dúvidas de que o apego é um processo inato cujos mecanismos, como chorar, agarrar-se, aconchegar-se, sugar, são comuns tanto a bebês quanto a jovens primatas. O sorriso, especificamente humano, é um dos mecanismos de apego que aparecem de forma bastante precoce no recém-nascido. A teoria do apego foi se enriquecendo progressivamente. Hoje ela vai além da relação mãe-filho e engloba também as relações com as outras pessoas que convivem com o bebê.








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ANGÚSTIA

ANGÚSTIA




Conjunto se sentimentos e fenômenos afetivos caracterizados por uma sensação interna de opressão e de constrição e pelo temor real ou imaginário de uma desgraça ou de um grande sofrimento, diante dos quais nos sentimos, ao mesmo tempo, desamparados e incapazes de dos defender.

É difícil estabelecer a distinção entre angústia e ansiedade, mas a angústia se caracteriza pela forma mais severa de ansiedade. É por isso que se fala em Angústia Psicótica, Angústia de Fragmentação, Angústia de Castração, Angústia de Morte, Angústia de Destruição etc. Enquanto a ansiedade é vivenciada na maioria das vezes em um nível fundamentalmente psíquico, a angústia, por definição, vem acompanhada de manifestações somáticas e neurovegetativas.


Angústia do Oitavo Mês

De acordo com o psicanalista americano René Spitz, a primeira manifestação de angústia verdadeira acontece em torno do oitavo mês de vida, quando o bebê se vê diante da ausência da mãe e a aproximação de um estranho, bruscamente reconhecido como diferente de sua progenitora.

Longe de ser uma manifestação anormal, esse comportamento é sinal de progresso. é a prova de que a criança atingiu a capacidade de distinguir entre o que é familiar e o que é estranho e que seu desenvolvimento afetivo se desenrola normalmente. Ao longo da vida, em momentos cruciais da existência, quando uma nova adaptação se mostra necessária, o indivíduo redescobre, temporariamente, a angústia.











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