quinta-feira, 14 de março de 2013

HISTÓRIA DA PSICANÁLISE

HISTÓRIA DA PSICANÁLISE




A psicanálise teve início a partir de um trabalho clínico dedicado à histeria. As pessoas histéricas sofriam de sintomas físicos incapacitantes (paralisias, paresias, anestesias etc) sem causas orgânicas identificáveis. Por volta do final do século XIX, tentava-se fazer desaparecer os sintomas por meio da sugestão, colocando esses pacientes em um estado de hipnose.

Os princípios da psicanálise

A psicanálise parte de um postulado segundo o qual tudo o que aparece nos sonhos e nos atos falhos comporta uma dimensão que permanece oculta. Trata-se do inconsciente, produto de uma série de acontecimentos ocorridos no início da infância - talvez até mesmo antes disso - e que se relacionam ao desenvolvimento da sexualidade no sentido amplo, a princípio não genital (o prazer da boca, da excreção). Tais acontecimentos são censurados.

Por volta dos 3 anos de idade, a criança descobre a diferença entre os sexos. Em seus primeiros anos, ela vive, portanto, acontecimentos fundamentais, que talvez jamais tenham ocorrido efetivamente, mas que afloram em sua consciência: o espetáculo do coito entre seus pais (cena geralmente fantasiada) e a castração. Para o menino, trata-se da ameaça de ter o sexo cortado devido à masturbação, que significa para ele a descarga normal dos desejos edipianos. Para a menina, a visão daquilo "oque lhe falta" leva-a a ter inveja do pênis, o que a conduz da sexualidade ao desejo de ter um filho de seu próprio pai, fazendo-a entrar na evolução normal da heterossexualidade.

Para a criança, as proibições sociais, mesmo não formuladas, estão na origem do recalque das representações ligadas à sexualidade na direção do inconsciente, o qual vai se carregar de energias potenciais. O que foi recalcado tende sempre a retornar sob a forma de sintomas, atos falhos, lapsos, sonhos etc. É o conjunto desses conflitos que cria o ser humano.

O complexo de Édipo é a descoberta de um processo fundamental: o ciúme que a criança sente em relação ao genitor do mesmo sexo e o desejo inconfessado de eliminá-lo para em seguida substituí-lo. Esse conflito dá origem a neuroses quando o Édipo não encontra uma saída favorável, e desaparece quando o indivíduo descobre outros objetos.

A sessão analítica e suas regras fundamentais

As neuroses e algumas outras tensões psíquicas que traduzem o mal-estar do indivíduo podem levá-lo a consultar um psicanalista.

Durante a sessão de análise, as associações do paciente permitem retraçar o curso do processo de recalque e trazer à tona os desejos inconscientes. Portanto, a primeira regra fundamental da psicanálise é a associação livre: pede-se ao paciente que se permita dizer tudo o que lhe vem à mente, mesmo que seja algo que lhe pareça inútil, inadequado ou estúpido. Exige-se dele que não omita, em hipótese alguma, nenhum pensamento, seja ele vergonhoso ou penoso. Essa regra fundamental estrutura a relação entre analista e paciente.

Ao mesmo tempo, opera-se uma transferência de sentimentos de amor ou de ódio em relação à própria prática de análise e à pessoa do analista. Resistência e transferência condicionam o fato de reviver situações conflituosas antigas ou lembranças traumáticas recalcadas, podendo a situação de revivescência trazer um obstáculo ao trabalho de tratamento. Para superar essa situação de bloqueio, é necessário que tudo o que resulta da análise - os acontecimentos que nela se produzem, as imagens, os pensamentos secretos, os silêncios etc - seja igualmente analisado, pois faz parte do sintoma que o paciente deve trabalhar para se libertar da lembrança. Cabe ainda ao analista saber em quais situações ele é capaz de sustentar a transferência, em função da própria experiência passada e de sua intuição quanto a seus processos inconscientes.

A psicanálise: um saber, uma prática

A psicanálise não é uma ciência, porque se produz com a ajuda de enunciados que escapam ao critério da verificação. Porém, essa crítica permanece sem impactos notáveis. Em todo caso, trata-se de um saber constituído e sobretudo de uma prática que envolve uma relação pessoal com a experiência freudiana. Para que um indivíduo se torne psicanalista, e tenha uma prática psicanalítica real e eficaz, supõe-se que ele mesmo já tenha se submetido à psicanalise.

A história do movimento

O desenvolvimento da psicanálise caminhou lado a lado com a sua estruturação institucional (criação da International Psychoanalytical Association em 1910) e foi acompanhado de distanciamentos e de divisões (Alfred Adler, Carl Gustav Jung, Otto Rank, Sándor Ferenczi, Wilhelm Reich). Viena, cidade de Freud, foi, durante muito tempo o centro do movimento psicanalítico, até que o nazismo obrigou grande parte dos psicanalistas a emigrar para os Estados Unidos.

Nos países comunistas, a psicanálise foi banida por ser considerada uma ciência burguesa e reacionária. Na Grã-Bretanha, onde Freud se refugiou em 1938, ela conhecerá uma recuperação teórica importante, graças aos trabalhos de Melanie Klein, Anna Freud e Donald Woods Winicott.










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A psicologia em 50 verbetes - Tradução Debora Fleck - São Paulo - Ed. La Fonte - 2012.

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